Monday 23 September 2013

Quando desci as escadas para ver o que se passava, deparei-me com um tableau digno de uma peça: as duas portas abertas, uma vizinha debaixo de cada uma, e um senhor careca a perder a cabeça no patamar entre elas.

-Ó vizinha, tenha calma,- pedia a senhora com ar de bobtail que vive no primeiro esquerdo para a do direito, que estava  de cuecas e uma t-shirt suja do PS a ameaçar desfazer o marido. -Peça a Santo Agostinho que a rogue que isso é da cabeça. Tenha calma! No casamento, quando duas pessoas estão juntas, tem que haver uma pessoa que se baixa, que se cale. Se não, acabavam os casamentos todos e era uma grande confusão. É, não é?- Pergunta-me ao me ver chegar e deixa os outros dois a discutir.

 Ele quer entrar em casa para ir buscar uma camisola e ela não o deixa. Ele chama-lhe uma vaca, e outras coisas piores. Ela diz que ele é a causa da 'pressão dela. Um guincho, ele foge dois degraus. 40 minutos depois isto acaba com ele sentado à porta de nossa casa, testa rachada, três agentes da polícia e dois socorristas envolvidos. Mas antes de aí chegarmos, a vizinha do primeiro esquerdo partilha num sussurro o seguinte segredo para uma vida conjugal feliz:

-O meu marido vive em casa dele e eu vivo nesta. Às vezes ele vem cá e também tem muito mau feitio. Chega aí com uma cabeça! Só que eu sei fazer bons rissois, então faço-os e vou-me fechar na casa-de-banho que ele acalma logo.

(-Outro Domingo qualquer, 
ou duas vizinhas e um chapéu de chuva partido)

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