Sunday 1 December 2013

Eles os dois estavam a saír do café dos kebabs quando eu, que estava a voltar para casa, passei por lá. Acabámos a descer a Bacalhoeiros, a andar os três lado a lado mesmo no meio da rua. Eu e os dois arrumadores cá do Bairro, e todos nós já tinhamos estado mais sóbrios. Diz o mais alto dos dois, com um casaco até aos joelhos e uma garrafa na mão:

-O que eu vou fazer agora é ir fumar um g'anda ganza e ir ouvir a gorda a cantar o Fado! Ai, grande Alfama, é por isso que eu gosto de ti.
-Belo programa esse. Assim realmente, - disse-lhe eu, sem conseguir resistir.
-É, não é? Olha, tu és do Norte. Do Porto? De onde?
-Lordelo do Ouro.- A garrafa passa para o outro, um baixinho com a cara chupada e um barba de arames grossos. Diz esse, depois de dar um golo:
-Que bela terra, Lordelo do Ouro.
-Mas moras aqui?
-Ali, atrás do arco.- Atravessamo-lo juntos, os três, com os olhos a nadar, as  únicas luzes naquele beco coberto de sombras. -Há coisa de um mês. 

Eles dão-me um abraço e apertam-me a mão à vez, várias vezes.

-Bemvindo a Alfama, rapaz. Estás a falar com o Zé Luis e o Pedro Marinheiro. Se precisares de alguma coisa, diz.
-A gente toma conta de ti.
-Kiko, do 32. Vocês também, se precisarem.
-Olha, e se vires por aí uma gata gorda, não lhe faças mal.
-Que ela é aqui do bairro. A gente gosta dela.
-A nossa Maria,- dizemos os três ao mesmo tempo e eles vêm dar mais um abraço cada um.

Chegado a casa, despeço-me deles. Diz-me o baixinho a encolher os ombros, ainda de garrafa na mão.

-A gente às vezes bebe um bocadinho de mais, mas não é más pessoas.

Eu, que também sofro desse mal, naquela Sexta-Feira tinha trocado o tecto e tudo por aquela certeza de que a gente não é más pessoas.

-Kiko, do 32

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