Monday 30 September 2013

Quando o comboio pára, nem dá para perceber onde estamos. Entre a escuridão da plataforma e as luzes mortas do vagão, não se vê nada do outro lado da janela. Já soa o aviso de que as portas se vão fechar quando eles os dois explodem comboio adentro. Correm pelo corredor  e caiem a rir-se no lugar à minha frente, do outro lado da mesa de plástico. Observam-nos, mecânicas e cansadas, a meia dúzia de pessoas que já estão sentadas. Observam-nos, mas não os vêem.

Ele é mais velho que ela, tem um ar de rafeiro subnutrido. Ela é pequena, loira e linda e adormece de costas sobe o peito dele. Ele segura nela naquele meio abraço. Crava os dedos todos nos ombros dela. Crava cada dedo como se nunca a fosse largar. Ele ainda não teve tempo de se esquecer daquilo que ela ainda não teve tempo de aprender: que não há amor que dure para sempre.

Mas nem isso, nem nada, o pode impedir de tentar.

(-no último comboio para Aveiro, Julho)

1 comment:

  1. Às Segundas somos pirosos. Numas mais que noutras, nunca mais que nesta.

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